Até pouco tempo atrás, era raro encontrar pessoas fora do grupo dos primeiros entusiastas que entendessem o que era a tecnologia blockchain, sua utilidade ou alguma aplicação dissociada do mundo financeiro dos bitcoins.
O cenário hoje é muito mais cristalino. A mídia tem cumprido o papel de informar os casos de uso que surgem todos os dias – além do mundo dos criptoativos – e que estão solucionando problemas reais nos mais diversos mercados de forma eficaz.
Pagamentos internacionais, registros de imóveis, rastreamento de alimentos e validação de informações no combate às fake news são algumas das diversas aplicações baseadas no blockchain disponíveis aqui mesmo, no Brasil.
Essas empresas inovadoras perceberam que o blockchain poderia ser usado para simplificar processos, reduzindo custos, melhor atendendo clientes e trazendo mais transparência e confiabilidade. Os alimentos, por exemplo, podem ser rastreados em toda a cadeia produtiva: desde a seleção de sementes, processo de industrialização, logística e gôndolas até chegar ao consumidor.
Alguns cartórios estão empregando o blockchain no registro de imóveis, tornando a experiência do cliente muito mais interessante. Graças à tecnologia e de forma totalmente digital, é possível rastrear todo o histórico de transferências de propriedade, validar e autenticar documentos em tempo real, evitando fraudes, trazendo muito mais agilidade e reduzindo custos (sem deslocamentos desnecessários de pessoas, eliminação de espaços físicos para guardar documentos etc.).
Vamos tomar agora o exemplo de remessas internacionais de valores. É mais rápido pegar um avião para outro país e depositar o dinheiro pessoalmente do que realizar uma transferência a partir de seu próprio banco. O problema é que a tecnologia em uso nasceu antes da internet e, por conta dessa defasagem tecnológica, as operações não permitem rastreabilidade e não são confiáveis, pois apresentam falhas em cerca de 6% a 8% das vezes. A adoção do blockchain permite a eliminação do intermediário e o envio de dinheiro para outro país sem entraves, em poucos segundos e a uma fração do custo.
As empresas que utilizam o blockchain para registrar imóveis, rastrear alimentos ou viabilizar transferências internacionais de recursos conseguiram enxergar além da nuvem de fumaça da novidade.
Este é o ponto crucial.
A tecnologia deve resolver um problema real. No entanto, infelizmente, existem muitas “soluções” desenvolvidas que estão agora à busca de “problemas”. Seguir esse caminho inverso é o mesmo que trocar uma nuvem de fumaça por outra – ou nunca sair dela.
por Luiz Antonio Sacco, executivo com larga experiência em serviços financeiros e tecnologia, é diretor geral da Ripple no Brasil e América do Sul