Estamos vivendo uma era de profundas transformações econômicas de base tecnológica. Automação, Inteligência Artificial, Computação Quântica, IoT, dentre outras tendências, caracterizam esse período, segundo muitos analistas, como a Quarta Revolução Industrial.
Historicamente, sempre que disrupções deste tipo ocorreram – seja pelo surgimento da propulsão a vapor, da energia elétrica ou mesmo da informática nos anos 60/70, houve fortes reorganizações do mundo do trabalho. Profissões bem estabelecidas desapareceram, enquanto outras, nem sequer imaginadas anteriormente, surgiram e passaram a ocupar grandes contingentes da força produtiva.
Apenas como exemplo: em 1978, em 22 dos 50 estados americanos, a profissão mais frequente entre toda a força de trabalho era a de secretária. Passaram-se 40 anos e, tendo em vista a automação do ambiente de escritório causada pela microinformática, hoje ela é a ocupação mais frequente em apenas cinco desses estados. Por outro lado, atualmente, a ocupação mais comum em 29 estados americanos é a de motorista de caminhão ou de veículo de entregas.
É fundamental, hoje, por conta da transformação digital, entender a velocidade com que essas transições no mercado de trabalho acontecerão. Se a inovação tecnológica for muito mais rápida do que sua reacomodação, veremos consequências sociais e políticas graves nos próximos anos, com crescimento do desemprego e da exclusão. Poucos governos – a nível mundial e, em particular, na América Latina – parecem entender a natureza desse processo.
Nessa linha, quando converso com jornalistas ou outros analistas e falo sobre a transformação digital e o processo de reorganização econômica que vamos viver nos próximos anos, muitas vezes me perguntam: “E qual será a profissão do futuro?”. Minha resposta é sempre algo como “Não tenho ideia. Às vezes me pergunto se haverá futuro nas profissões!”.
A verdade é que vejo um ambiente de clara fragmentação no mundo do trabalho. Em tempos de Uber, vale a pena nos perguntarmos se há uma perspectiva nos empregos clássicos ou se estamos entrando em um ambiente no qual dominarão as “tarefas”, anunciadas e contratadas online. Pílulas de trabalho informal, muito específicas, que compõem projetos maiores e são baseadas em conhecimentos e competências limitadas àquela atividade.
Plataformas como Amazon Flex e GigNow já são materializações deste conceito. Assim como o Fordismo desacoplou as tarefas manuais da construção do produto final, o que vemos, hoje, é algo parecido no contexto do trabalho intelectual e de base cognitiva. Em contrapartida, um enorme valor será atribuído àqueles capazes de formular e gerenciar projetos nesse ambiente. Dessa forma, saber fazer passa a ser uma commodity; resolver problemas, criar e gerenciar serão as grandes fontes de construção de valor.
E como nos prepararmos para tudo isso que vem pela frente? Para mim, é muito difícil ser específico. Eu, claramente, apostaria na caixa de ferramentas. Ou seja, um profissional do futuro tem que estar municiado de um bom conjunto de instrumentos que permitam a resolução de problemas – visão sistêmica, capacidade de síntese, raciocínio quantitativo. A formação científica, em geral, propicia esses componentes.
Não podemos, entretanto, menosprezar os elementos de natureza humanista. O desenho de interfaces e interações homem-máquina exigirão o domínio de aspectos associados à psicologia, à sociologia e às ciências que envolvem o estudo do comportamento humano, assim como a antropologia. Em particular, a zona de intersecção desses dois domínios parece ser de enorme interesse.
Em resumo, aposto mais em profissionais generalistas do que especialistas, com mais capacidade de síntese do que de análise, com visões mais sistêmicas do que localizadas. Mas, sobretudo, acredito na necessidade de uma atitude adequada, uma postura inconformista, curiosa, sempre orientada ao aprendizado e à busca proativa pelo novo, pelo desafiador, fora da zona de conforto. Um profissional que tenha esses atributos será sempre alguém que trará contribuições efetivas nesse ambiente de transformação tão radical no qual estamos inseridos.
por Rodrigo Parreira, CEO da Logicalis para a América Latina