O papel das certificações e do compliance como diferenciais competitivos


É inegável que o crescimento do mercado de computação em nuvem tem movimentado o setor de data centers no Brasil e na América Latina. Dados da consultoria IDC apontam que o segmento de cloud pública no Brasil pode chegar a US$ 2,6 bilhões em 2019, crescendo 35% anualmente até atingir US$ 6,5 bilhões em 2022. E, se por um lado esse “boom” do setor tem aumentado as oportunidades de faturamento, as novas demandas também têm trazido mais exigências por parte dos clientes e investidores.

Hoje, excelência no atendimento e alta qualidade da infraestrutura passaram a ser características básicas e imprescindíveis para ascender no setor. Junto a isso, antecipar riscos e atender às obrigações normativas em linha com a legislação local tornaram-se questões ainda mais importantes como diferencial competitivo.

Um dos impulsionadores desse movimento foi a sanção da lei Anticorrupção, em 2014. A resolução determina que as companhias de todos os portes tenham processos de ética bem definidos e sejam punidas caso venham a se envolver em atos de corrupção. Com quatro anos de aplicação do regulamento, o governo federal já iniciou 183 processos contra empresas e aplicou 30 punições.

Diante desse cenário, é necessário estar preparado e se precaver com processos transparentes e bem definidos para não ser surpreendido. Mas como podemos garantir e comprovar a conformidade com as regulações do setor?

Certificações internacionais e a gestão de compliance têm um papel de peso nesse processo.

No setor de data centers, as certificações garantem que a infraestrutura está adequada a uma série de normas nacionais e internacionais que envolvem tanto questões técnicas (relacionadas à segurança, disponibilidade de serviços e redundância de recursos), quanto temas normativos (como o cumprimento do código de ética e conduta).

O valor agregado de uma certificação vai muito além do financeiro, já que envolve também todos os colaboradores da organização, auxiliando-os em desenvolvimento pessoal, e visa organizar os procedimentos de maneira sistêmica. Esse processo ajuda a empresa a entender as operações internas, melhora o atendimento aos clientes e define procedimentos estratégicos.

Já o compliance corporativo garante que a organização e todos os seus funcionários sejam informados e sigam as leis, regulamentos, padrões e práticas éticas que se aplicam à corporação. Ao certificar-se de que todas as áreas estejam trabalhando juntas e mantendo tais padrões, o compliance ajuda a prevenir grandes desastres e falhas. Adotá-lo como estratégia corporativa ajuda as organizações a prevenir e detectar violações de regras, evitando possíveis multas e ações judiciais.

Atualmente, a maturidade da implementação desses processos no Brasil ainda requer desenvolvimento. Pesquisa de 2017 da consultoria KPMG, com cerca de 250 empresas brasileiras, concluiu que apenas 58% delas possuem mecanismos de gestão de riscos de compliance, enquanto que 42% informaram desconhecê-los.

Porém, é importante pontuar que o Brasil está nos holofotes da imprensa nacional e internacional, reconhecido pelo seu potencial criativo. Esse traço de personalidade é encantador e contraditório, pois ao mesmo tempo em que o “jeitinho brasileiro” refere-se a uma habilidade criativa para a resolução de problemas, o termo também está relacionado a uma capacidade sagaz de agir de maneira ilegal para obter benefícios pessoais. Uma tênue linha que separa as atitudes inovadoras das ilícitas.

Assim, a adequação às normas nos ambientes de negócios passou a ser fator determinante para a competitividade saudável. Além de conferir transparência e credibilidade às organizações, o controle interno de processos, regras e condutas faz com que as certificações e a área compliance integrem cada vez mais os objetivos estratégicos e táticos das empresas para promover operações eficazes e impulsionar os resultados financeiros.

por Roberto Rio Branco, vice-presidente de Marketing e Relações Institucionais da Ascenty