Um dos pontos mais sensíveis no enfrentamento à pandemia de coronavírus é o modelo utilizado para combater a proliferação da doença e seu respectivo impacto social e econômico em cada país. O tema gera muita discussão e desgaste político entre as lideranças que optaram pelo lockdown e isolamento social como medidas preventivas e aquelas que incentivam a reabertura das cidades.
Os modelos de isolamento foram adotados pela maior parte dos países, entre eles China, Espanha, Itália e Estados Unidos, que registraram o maior número de casos da doença. O Brasil também entra na lista, mesmo que alguns estados tenham administrado de maneira distinta a contenção da Covid-19.
Além da diferença entre os resultados de cada estratégia, muda também o impacto econômico e o nível de dificuldade para retomada à normalidade. Dentro dessa perspectiva, o isolamento dos perfis de maior risco aliado ao teste em massa da população para identificação dos portadores permitiria a continuidade das atividades, ainda que em menor ritmo, mas ainda há dúvidas sobre a eficiência deste método no quesito sanitário.
De qualquer forma, mesmo com as medidas de isolamento, os casos da doença crescem a cada dia mais e os sistemas de saúde já começam a ficar sobrecarregados. Por isso, também vem crescendo o número de estados que consideram adotar uma medida ainda mais extrema para combater a pandemia: o lockdown.
Trata-se de um protocolo de emergência que autoriza o bloqueio de todas as entradas e saídas de uma região e da proibição da circulação de pessoas. Nesse cenário, a população passaria a ser monitorada por agentes de segurança e somente trabalhadores essenciais teriam permissão de entrar ou sair da respectiva área isolada.
Estados como Maranhão e Ceará já adotaram a medida em suas respectivas capitais, São Luiz e Fortaleza. Enquanto isso, Pará, Rio de Janeiro, Pernambuco e São Paulo também já sinalizaram que estão estudando e consideram essa uma opção potencialmente necessária no futuro próximo.
De qualquer forma, esse é só um dos sinais de que não estamos vendo uma sincronia entre o governo federal, estados e municípios nas medidas de isolamento e/ou flexibilização, o que torna ainda maior o risco de uma segunda onda de contágio nos próximos meses. Isso porque, se por um lado a preocupação é com a capacidade de atendimento do sistema de saúde, o preço a ser pago nos próximos anos em termos de impacto econômico também será alto, fato que deve começar a ficar evidente no final do primeiro semestre, quando os números devem começar a dar a real magnitude da profundidade da crise.
Nesse sentido, o entendimento de que a recuperação econômica poderia ser em V, ou seja, uma rápida recuperação após uma profunda queda, já não se sustenta mais. Atualmente, o modelo mais otimista que está sendo considerado é o de uma retomada em U, que significa um período de estagnação após a crise e uma ascensão ao final de 2020.
Além desses, outros cenários também são especulados como a recuperação econômica em L – quando os efeitos da crise permanecem graves durante o segundo semestre do ano, prejudicando o retorno do consumo e prolongando a crise para 2021 – e a retomada em W – que prevê uma retomada de curto prazo, seguida por uma possível segunda onda de contaminação que exigiria uma nova rodada de isolamento social, novos impactos econômicos e nenhum prazo para tudo isso acabar.
Como visto, existem diversas possibilidades de recuperação econômica para o Brasil, mas nenhuma delas traz uma notícia muito boa. De qualquer forma, para ficarmos com o menor dos males, tudo depende diretamente da nossa capacidade de organização e alinhamento, além de sabermos tomar as decisões corretas para minimizar os impactos sanitários e econômicos que, a essa altura, já são inevitáveis.
por Ernani Reis, analista da Capital Research