Os dois lados de Guto em seu EP de estreia, “Duplo”


Guto (Crédito: Júlia Maia)

Minas Gerais é um local inspirador e especial para história da música brasileira. Berço de um dos principais movimentos musicais tupiniquins, o Clube da Esquina, o estado é também o ponto de partida de artistas contemporâneos como Jair Naves – que dedicou um EP inteiro para sua Araguari – ou as já faladas por aqui, Dolores602, da capital Belo Horizonte. Dois nomes que transmitem uma variedade de sons e ideias oriundas da mistura cultural e de contexto do estado com o maior número de cidades do Brasil.

Também de BH desponta um novo nome: Guto. Assim, simples, sem nada antes ou depois. Mas que se basta nessas quatro letras, assim como seu EP de estreia, Duplo, que se expande em quatro canções autorais de cunho existencialista e bastante sensível.

Leitor de José Saramago e Fiódor Dostoiévski, Guto compôs as faixas inspirado na questão da dualidade que permeia a existência humana, aqueles dois lados da moeda que carregamos dentro da gente, sabe? Mas em Duplo esqueça o diabinho de um lado e o anjinho do outro, a reflexão é muito mais densa que isso.

Com uma sinceridade objetiva, Guto nos pergunta sobre passado e presente, sobre o ir e vir, traduzindo essas dicotomias em camadas de guitarras e vibrações, lançando perguntas e deixando que a melodia nos conduza pra possíveis respostas. Nas palavras do músico, “percebi que poderia transmitir impressões leves de uma questão profunda [a dualidade] em meio a esses recortes cotidianos, deixando, ao ouvinte, o convite a se reconhecer ‘duplo’ e aceitar essa dualidade”.

Destaque para “Onda do Mar”, última canção do EP, que traz uma analogia entre as relações afetivas e as ondas do mar. “A ideia é que o balanço do mar tira a gente da zona de conforto, mas seu mistério nos faz querer mais. Acredito que nas relações afetivas é assim também: nos movimentamos e nos transformarmos um pouco no outro”, revela Guto. “Musicalmente, o movimento das ondas aparece nos desenhos melódicos, na organização dos versos e nas cadências rítmicas – há desencontro e defasagem por toda parte -, feito ondas a quebrar entre pausas que ora atrasam, ora adiantam”, completa. Ouça abaixo: