Num flow direto e com papo reto, as rappers capixabas do Melanina MCs acabam de lançar seu disco de estreia, Sistema Feminino, já disponível nas principais plataformas digitais e no YouTube – ouça aqui. Produzido por Henrique Paoli (André Prando/ My Magical Glowing Lens), o álbum recebeu coprodução de Fepaschoal – ambos são músicos experientes da atual cena independente de Vitória (ES), cidade de origem do grupo.
Sistema Feminino é o resultado de muito esforço das MCs Afari, Geeh, Lola e Mary Jane, que ao longo de 2017 dividiram suas vidas pessoais e profissionais com as gravações do álbum. “O processo de gravação do disco foi um período de dedicação e aprendizado enriquecedor para todas nós”, comenta Afari.
Com referências que passeiam do rap ao rock, o álbum traz também elementos oriundos da música eletrônica, do pop e da MPB, comprovando uma sintonia genuína do rap das Melanina MCs com diferentes estilos e propostas musicais contemporâneas.
Dilacerante, Sistema Feminino começa com a música de mesmo nome. “Então me diz, vai. O que tu tá querendo aqui?”, perguntam as Melanina MCs. O rap, de contornos roqueiros, abre o disco com uma letra sem rodeios, que chama o ouvinte para o debate, já antecipando que no álbum inteiro o papo será direto e delas. Aqui, a cozinha foi feita por três convidadas especiais: Larissa Conforto (Ventre) na bateria, Carol Navarro (Supercombo) no baixo e Gabriela Deptulski (My Magical Glowing Lens) na guitarra.
Em “Crespo Áspero” as cantoras evocam a autoestima da mulher negra por meio de suas características naturais e ancestrais. A canção é potencializada pela melodia eletrônica, decorada de espertas e dançantes viradas. “Tudo que eu não quis” traz uma mensagem sincera e bonita sobre resgatar o ânimo quando o mundo insiste em te derrubar, com beats que deixam a mensagem ainda mais direta e fluída. Um mantra para os dias ruins.
Na sequência, “Cenários”, primeiro single lançado pelo grupo, tem Anna Tréa nas guitarras e destaca os sentimentos da mulher negra periférica, versando sobre seus sonhos e vontades. “Não sei o que cê pensa de mim, eu sei que o meu jeito é assim” é o mote de “Meu Jeito”, rap de percussão suingada que seduz o ouvinte na levada compassada e nos vocais envolventes das MCs.
“De Role” é agitada com seus beats e camadas eletrônicas, um convite das rappers para uma noite de muita diversão e suor na pista. Já “Pele Maciça”, segundo single divulgado, chega com uma letra poderosa, que exalta a resistência diária da mulher negra, seus percalços e objetivos. Confiança e otimismo são as duas armas que as Melanina MCs apontam para a opressão de gênero e classe e são também as protagonistas da oitava faixa, “Castelo de Madeira”, antecipando “Maria Maloca”, de composição igualmente firme, que revela a coragem de seguir suas escolhas e a sabedoria em lidar com as consequências geradas a partir delas.
Sistema Feminino termina com “Direto e Reto”, um rap de impacto, com traços próximos ao do funk carioca. É o último dedo na cara: “Enquanto eles gastam saliva, eu tô trabalhando dobrado”, é o verso que confirma o corre das MCs e um aviso de que a força delas está só começando a se espalhar.
“Sistema Feminino é um convite para presenciar a realidade do cotidiano visto através dos olhos de diversas mulheres, tem muita inspiração das que vivem ao nosso redor nisso aí”, comenta a MC Geeh.
A banda de apoio das Melanina MCs durante a gravação do álbum foi composta por Thaysa Pizzolato nos teclados e sintetizadores, Henrique Paoli (My Magical Glowing Lens/André Prando) na bateria, Fepaschoal na guitarra e o DJ Jone BL.