As APIs e a revolução do setor de pagamentos


Pagamentos via aplicativo de celular, QR Code, criptomoedas, carteira virtual, biometria, entre outros. Há alguns anos era impossível imaginar que o consumidor teria tantas opções para realizar pagamentos. Hoje, a chamada revolução digital do setor financeiro já é uma realidade, e os modelos Open estão cada vez mais presentes.

De acordo com um estudo da Accenture, divulgado em setembro de 2019, os bancos tradicionais irão perder, até 2025, 15% de sua receita global de pagamentos, ou seja, US$ 280 bilhões, em razão das novas tecnologias oferecidas, na maioria das vezes, por fintechs. O estudo mostra ainda que, a receita global de pagamentos provavelmente crescerá a uma taxa anual de 5,5% ao ano: de US$ 1,5 trilhão em 2019 para mais de US$ 2 trilhões até 2025. Por essa razão, a Accenture prevê que os bancos que mudarem seus modelos de negócios, irão capturar uma parte dos US$ 500 bilhões em crescimento incremental de receita.

Nesse cenário, o Open Banking, movimento que é considerado uma das principais mudanças no setor financeiro dos últimos anos e está sendo implementado no Brasil pelo Banco Central, pode ser uma chance para que os bancos tradicionais ou até mesmo os que já nasceram na era digital, se reinventem e tracem novas estratégias de negócios para acompanhar as inovações das formas de pagamento.

Tanto as novas formas de pagamento como o Open Banking em si esbarram na tecnologia das APIs, já que elas são fundamentais para criar ecossistemas que conectam pagamentos e outros canais digitais de maneira escalável, além de possibilitar transações financeiras através de uma plataforma aberta e sem burocracias. Muito mais do que atender uma regulamentação, os grandes bancos, fintechs e demais empresas do setor devem começar a traçar estratégias de como ampliar as oportunidades de negócios, através das APIs.

Novos meios de pagamentos: QR Code e carteira digital

As novas formas de pagamentos como o QR Code da Cielo ou da PagSeguro e o Wallet Digital da Via Varejo são exemplos interessantes de como as APIs estão por trás das novas tecnologias.

Até pouco tempo, pagar suas compras nos estabelecimentos era limitado pelo uso de cartão e senha, quando muito, o pagamento poderia ser realizado por aproximação. Hoje, todas as maquininhas da Cielo já incorporam uma solução de pagamentos por QRCode. A plataforma QR Code™ Pay, criada com base nas APIs da Sensedia para integrações, já nasceu com 40 milhões de potenciais usuários e, o meio de pagamento é 100% digital. Como esse é um ecossistema aberto, habilitado através de APIs, é possível ter outros parceiros utilizando, como por exemplo, Bradesco ou Quick Pay. É possível também ter seus dados cadastrados no Quick Pay ou até mesmo no app da Cielo e, em vez de usar o cartão, o cliente pode utilizar um desses apps.

Através da câmera, o celular lê o código que está na maquininha e com isso, ela efetua o processo de pagamento normalmente. Isso abriu um leque muito grande de possibilidades, como por exemplo, os pagamentos via QR Code que foram testados na TV, durante uma edição do programa Teleton. Além de pagamentos, foi possível fazer doações para instituições.

Todo esse conjunto de iniciativas, onde a estratégia de API é considerada um pilar fundamental, está sendo consolidada dentro de um grande programa de Open Payments da Cielo para que ela organize melhor os produtos baseados em APIs e crie uma experiência melhor para os desenvolvedores.

A Elo também é um exemplo de empresa voltada para vertente de pagamentos. A estratégia deles, com o uso de APIs é bem clara: se posicionar como uma plataforma aberta e trazer soluções de pagamentos. Para isso, o trabalho de engajamento para o uso das APIs começa dentro de casa, com os times comerciais, que investem bastante esforço no portal de desenvolvedores para engajar outras soluções a utilizarem serviços da Elo. Definição do modelo de negócios, design, funcionamento e segurança também estão garantindo a escalabilidade dessas APIs.

No futuro, padronização pode ser necessária

A quantidade de novas formas de pagamento que estão surgindo do mercado podem se tornar um problema no futuro. Várias empresas como Cielo, Mercado Livre, Rappi querem criar seu próprio modelo de QR Code. Há no mercado uma discussão sobre criar uma padronização desse modelo de pagamentos, ou seja, criar algo que seja único para todos. Novamente, as APIs estariam envolvidas.

Isso se faz necessário porque, para o varejista, no futuro pode ser que seja complicado ter um cartaz para cada QR Code. A ideia é que ainda está sendo amadurecida e que, obviamente tem uma relação com o Open Banking, é que as empresas se resolvam entre si para que somente um meio de pagamento via QR Code sirva para todos.

As APIs como forma de integração

A concorrência pelos serviços financeiros está aumentando a cada dia e deixando os bancos tradicionais cada vez mais sob pressão. Além do surgimento das novas fintechs e bancos digitais, novas regulamentações como o Open Banking trazem a ideia da abertura de dados dos clientes, por meio das APIs.

Neste cenário, há duas opções para estes bancos: tratar o Open Banking como apenas mais uma regulamentação e, correr o risco de perder cada vez mais mercado ou, apostar em APIs como forma de integração para investir em novos negócios. A expectativa é que, a obrigatoriedade de os bancos abrirem as informações de seus clientes para outras instituições financeiras aumente a concorrência pelos serviços, diminua os preços para os consumidores e crie novos produtos, serviços e formas de pagamento.

por Fábio Rosato, Diretor de Soluções na Sensedia