Inteligência artificial, machine learning, fintechs e o 5G


Sou apaixonado por Inteligência Artificial e machine learning e há mais de 30 anos estudo esses temas. O poder de computação que temos hoje possibilita que essas duas tecnologias atinjam um potencial fabuloso. O que vemos hoje é o mundo virtual nos cercando de tal forma que, às vezes, deixamos de perceber que trocamos o físico pelo digital. E o futuro será, cada vez mais, repleto de IA e machine learning. É uma nova revolução industrial. Não é questão de “se” vai acontecer. Já está acontecendo.

Mas creio que ainda estamos fazendo um trabalho muito pobre no que diz respeito a explicar o impacto dessas tecnologias na realidade das pessoas. Elas não entendem o que significam. E, mais do que isso, não entendem como essas tecnologias podem melhorar sua vida, democratizar o acesso a uma série de serviços, incluindo os financeiros. Não imagino, claro, que todas as pessoas possam se tornar “data scientists”, mas não podemos fingir que não há uma diferença enorme entre países como o Brasil e as nações que perceberam a necessidade de dominar esses dois campos do conhecimento.

É o que está acontecendo, particularmente, na Ásia. Em países emergentes, o que mais ouvimos entre pais de alunos é que os currículos das escolas de seus filhos não mudam na velocidade das tecnologias. O ensino de matemática é o mesmo há 50 anos! Esse atraso tem um preço. E o que vamos fazer para resolver isso? Precisamos informar as pessoas, fazê-las entender que o futuro da tecnologia, via IA e machine learning, vai tornar suas vidas mais fáceis e ricas; e seu tempo, mais valioso.

Um exemplo prático: hoje, graças à tecnologia, uma pessoa sem experiência no mercado de aplicações financeiras pode ter um portfólio de investimentos baseado em IA. Antes, esse tipo de opção era para grupos muito reduzidos, com milhões para investir. Atualmente, graças à capacidade de computação e à IA aplicada à big data, qualquer um pode investir o valor que quiser online, via smartphone. Esse tipo de tecnologia muda dramaticamente a vida de uma pessoa e é um ativo fundamental para o crescimento de qualquer país.

Outro ponto importante: o advento das fintechs. A distribuição física de alguns setores, não apenas o bancário, está em transformação. Quando você olha para economias mais avançadas, o que está acontecendo com o setor de imóveis e de shoppings, por exemplo? Eles estão diminuindo, esses centros de compras estão fechando, se reorganizando, o número de shoppings vem caindo nos últimos anos. Isso é sintoma de uma mudança de comportamento das pessoas. Como interagem, como compram, como moram. Isso afeta, evidentemente, a maneira como as pessoas se relacionam com os serviços financeiros. E os bancos têm uma missão dupla, desde que essa mudança de comportamento se iniciou: o que fazer com suas agências físicas, que passaram a não atender mais as necessidades dos clientes; e como se tornar relevantes no ambiente virtual/digital.

Sob esse ponto de vista, as fintechs têm um papel importantíssimo, porque podem investir em inovação de uma forma muito mais orgânica, sem as preocupações de uma empresa tradicional. Elas podem se dedicar totalmente a novas tecnologias e disrupções. Isso colocou uma pressão enorme sobre os bancos. Em qualquer mercado há quem ganha e há quem perde. E as fintechs estão crescendo muito rápido, principalmente em mercados emergentes, especialmente no Brasil. E chamam cada vez mais atenção de fundos de capital importantes do Vale do Silício.

Esse é um cenário muito interessante, porque as fintechs passaram a ser também uma opção para todo o mercado, não apenas para os desbancarizados ou aqueles com parco acesso a serviços financeiros. Fui uma das primeiras pessoas a falar sobre esse tema nos foros regionais da indústria. Há mais de 20 anos, já comentava o assunto em reuniões da Febraban, aqui no Brasil, e também em outras entidades da região. E venho dando palestras a respeito da necessidade e o grande valor de incluirmos essa massa de gente na economia, tanto em seus países de residência como em seus países de origem (no caso dos imigrantes).

No Brasil, temos alguns esforços que valem menção global, como a dos correspondentes bancários, que funcionam como agentes bancários em diversos formatos de varejo, mas a verdade é que precisamos investir mais recursos e mais tecnologia nessa área. É incrível que a indústria financeira ainda não tenha conseguido globalizar essas soluções.

Principalmente porque, como sabemos, o futuro é mobile. E aqui vale uma outra menção, esta honrosa: o Brasil liderou, na região, desde a abertura de seu setor de telecomunicações, o salto para as tecnologias móveis. Foi um dos primeiros lugares do mundo a entender que era possível pular para tecnologias avançadas mais massificantes, sem ter de passar por todas as etapas evolutivas desse mercado.

Essas tecnologias móveis são muito mais rápidas de se desenvolver e têm uma capacidade de capilarização gigantesca. Porém, é preciso entender que, para uma empresa que depende do chamado mundo físico se tornar mobile first (ou mobile only), é preciso uma infraestrutura de distribuição muito eficiente para transformar a cadeia de valor. Então, se seu negócio fica em um lugar em que a logística e os serviços de entrega funcionam, a sua capacidade de migrar para o mobile é muito maior. Outro ponto fundamental: combate à fraude. Porque prevenção de fraude, tecnologicamente falando, é um negócio global; mas o combate aos fraudadores é uma questão local. Então, a eficiência da infraestrutura de segurança do país faz muita diferença. Porque um índice baixo de risco traz valor de verdade a um mercado.

E um terceiro ponto é o custo de acesso à banda larga. No mundo inteiro, as economias que mais crescem são as que têm uma infraestrutura de banda larga consolidada e de baixo custo para os usuários. Isso cria um cenário perfeito para que qualquer pessoa, em qualquer lugar, possa desenvolver seu e-commerce ou criar um canal de comunicação direta. E essa democratização é um fator fundamental para que a economia mobile only possa crescer de forma sustentável.

Os brasileiros são extremamente sociáveis, estão sempre no top 3 dos que mais interagem via redes sociais. São ávidos por tecnologia. Tenho certeza de que a Lei de Moore fará seu trabalho aqui também, com preços de serviços de telecomunicação cada vez mais baixos e tecnologias cada vez melhores e mais acessíveis.

Nesse aspecto, pode-se dizer que o 5G será uma nova revolução das telecomunicações, mesmo em países com questões de infraestrutura ainda a serem resolvidas, como o Brasil. Será absolutamente crítico em diversas áreas. A quantidade de serviços que poderão ser ofertados graças à velocidade do 5G é algo que nunca vimos antes.

Gosto de me lembrar que, há alguns anos, havia gente na indústria que dizia: “Mas quem vai precisar realmente de 10Mbps de conexão?”. Pois hoje não vivemos mais sem 100Mbps de conexão na internet de casa. Esse mercado é assim! Quanto mais largura de banda, melhor. Mas estamos falando, também, de protocolo de conexão, e o 5G traz benefícios muito importantes para as comunidades rurais, por exemplo.

Porque, na Avenida Paulista, estamos em pé de igualdade de conexão com os países mais avançados do mundo. Mas essa cobertura não é a mesma em todos os lugares. Em países territorialmente extensos, como o Brasil e a Austrália, se você se afasta dos centros populacionais e dos centros de distribuição do sinal de telefonia móvel, o serviço se torna mais e mais difícil. Tenho certeza de que, com o 5G, além de muito mais velocidade, teremos uma cobertura muito mais eficiente.

por Alex Picos, vice-presidente de Serviços de Dados Corporativos do PayPal