O mundo que o brasileiro não viu, de novo


Geo Capital (Crédito: divulgação)

Nos últimos dois trimestres (setembro a dezembro de 2018 e janeiro a março de 2019) um fato bastante comum, quando se trata de investimentos, se repetiu: o brasileiro olhou só para o Brasil, investiu numa única narrativa, não diversificou e, assim, correu mais risco.

Na noite do ano novo, quem tivesse lido jornais e revistas especializadas em investimentos nos dias anteriores (com exceção do meu último texto em que refleti sobre diversificação em 2019), teria uma certeza: deveria investir em ativos brasileiros.

Naquele momento se encerrava um ano de muitas discussões e eventos (crise dos caminhoneiros, copa, eleição), mas tudo parecia ter entrado nos eixos, afinal, Deus é brasileiro!

Nos últimos três meses do ano de 2018 o índice Bovespa subiu mais de 11% e, olhando para 2019, só havia uma possibilidade: para o alto e avante! Paulo Guedes, Moro, reforma da previdência, não tem como dar errado.

Mas, e a diversificação? Eu perguntaria. Sugiro também investir em ações de empresas que não são listadas na B3.

“Não”! “Olha o que tá acontecendo no mundo, o dólar vai derreter frente ao real e, além do mais, você não lê jornal? EUA e China estão em guerra comercial. Não viu que nesses últimos três meses de 2018 o índice de ações globais (MSCI World) caiu 16%? O mundo está em crise!”.

Investir é lidar com incertezas. Muitos cenários são possíveis, com diferentes probabilidades. Mas, atenção agora, por favor. Sempre que só uma possibilidade lhe for apresentada e que lhe for sugerido que invista levando essa “certeza” em consideração, não invista, questione.

Mas a leitura de que a bolsa brasileira iria continuar subindo com certeza e o mundo derreteria prevaleceu e, terminado o primeiro trimestre de 2019, qual foi o cenário que, até aqui, se materializou?

O Ibovespa no primeiro trimestre de fato subiu 8,56%, enquanto o MSCI (que certamente cairia) subiu 13,12%. Assim, os investidores que compraram a certeza de Brasil acima de tudo e mundo em crise correram mais risco pois não diversificaram e, em alguma medida, perderam no processo boas oportunidades.

Na filosofia de investimentos em que acredito, olhamos para o mundo e investimos em empresas que vendem seus produtos ou prestam serviços globalmente (inclusive no Brasil) e acreditamos que, enquanto as narrativas vão de uma certeza a outra, as boas empresas seguem vendendo, crescendo, defendendo seus lucros e vantagens competitivas. Nesse primeiro trimestre de 2019 muitas delas tiveram altas fortes. Entre elas estão, por exemplo, Moodys (+33% no ano), AB Inbev (+32% no ano), Tiffany (+33% no ano) e Comcast (+20%), isso para citar apenas alguns casos.

Infelizmente, como eu mencionei no início, esse não foi um evento especial, mas sim a regra. Enquanto tratarmos a diversificação internacional como uma estratégia tática e não uma regra estrutural de nossos portfólios, seguiremos perdendo oportunidades e, pior, correndo mais risco.

por Gustavo Aranha, sócio responsável área Comercial da GEO Capital, gestora brasileira com foco em investir, exclusivamente, em ações globais fora do país