Quais as expectativas para o mercado financeiro após três meses do novo governo?


Paulo Guedes (Crédito: divulgação)

O mercado financeiro brasileiro se encontra, no momento, em uma situação complexa. Enquanto a reforma da Previdência é uma pauta importante para movimentar a economia, os investidores e o sociedade como um todo convivem com uma grande incerteza: o governo conseguirá se articular para aprovar essa pauta na íntegra ou se ela passará de forma desidratada?

O que isso significa?

A proposta de Paulo Guedes, atual ministro da Economia, é de que a reforma seja feita de forma a economizar R$ 1 trilhão. No entanto, da maneira que o governo está começando a trabalhar, a economia seria de apenas R$400 milhões.

Se aprovada dessa maneira, o que parece mais provável de acontecer, a reforma ajudaria apenas momentaneamente, não resolvendo por completo a situação atual. A Bolsa de Valores se manteria entre 80 e 90 mil pontos, se aproximando dos 100 mil em alguns momentos.

Do contrário, se aprovada sem muito desgaste, a reforma da Previdência teria um impacto positivo no mercado de câmbio, com o real sofrendo uma modesta valoração, e traria uma maior valorização da Bolsa de Valores.

Falta de articulação do governo

Após as eleições, quando há a troca de governo no país, ocorre o que é comumente chamado de “lua de mel” entre os novos representantes e o mercado financeiro, que dura aproximadamente entre 4 a 6 meses. Durante esse período, o mercado consegue sentir quais são os planos de ação e poder de alcance do governo.

No entanto, o romance está acabando cedo demais neste ano. O mercado financeiro está começando a ter sinalização de que toda a expectativa em cima do governo será frustrada. A percepção é de que os novos representantes estão perdidos nas articulações, com poucas habilidades políticas para lidar com a Câmara dos Deputados, muitos conflitos na internet e desautorização de ministros, o que, para muitos, dá a parecer que ainda estão em campanha política ao invés de cuidarem da gestão do governo.

Essa sensação nos primeiros três meses deixa muito claro que, se não conseguir aprovar a reforma da maneira como proposta, o país terá um ambiente político e econômico ruim, com um governo fraco ao longo dos próximos três anos. Potencialmente, com pouco impacto e desacreditado junto à população, aos empresários e investidores, a não ser que algumas mudanças drásticas venham a acontecer.

A reforma tributária

Além da reforma da Previdência, a Tributária também é vista como uma medida importante que precisa ser levada em pauta. No entanto, como o governo está demonstrando falta de habilidade política, o foco continuará sendo na proposta do Paulo Guedes na previdência.

No caso da reforma Tributária, dependendo da forma que for aprovada, alguns dos benefícios são o crescimento no PIB, desafogamento de empresas e desobstrução da cadeia de fornecedores, o que representaria um sistema mais simples, barato, rápido e menos burocrático.

Hoje, o nosso sistema tributário é organizado em forma de cascata. Isso significa que toda vez que a mercadoria troca de mão até chegar ao consumidor final a cadeia dos fornecedores é tributada – ao invés de ter o imposto apenas no momento da venda. Esse modelo exige muito cuidado na hora de comandar uma empresa, logo que os tributos são altos e complexos.

Previsões para o ano: PIB, inflação e Bolsa de Valores

Diante desse cenário de instabilidade política e com uma retomada lenta da economia – o PIB no país cresceu apenas 1% em 2018, de acordo com o IBGE -, o Banco Central já começou a reduzir a previsão do crescimento para 2019, de 2,4% para 2%, e estima que a inflação fique entre 3% e 4,5%.

Pode ser que tenhamos alguma surpresa, mas, a depender do caminho que estamos trilhando, a década em que vivemos, de 2011 a 2020, será a pior no que se refere ao crescimento do PIB nos últimos 120 anos, com uma média de apenas 0,9% ao ano – pior até do que a “Década Perdida”, período de 1980, em que o PIB avançou, em média, 1,6% ao ano. Esse cenário de estagnação com inflação é o pior possível, reflexo de sucessivos déficits nas contas públicas, o que gerou um acelerado aumento da dívida do país.

A expectativa em relação à Bolsa de Valores é que ela permaneça entre os 80 e 105 mil pontos até que haja alguma sinalização positiva da reforma da Previdência, o que levaria a um aumento do valor.

Até lá, a perspectiva é que ela se mantenha nessa faixa.

por Edson Hydalgo Junior, commercial officer da Intrader DTVM