Sim, é possível viver de Day Trading


Há alguns dias, dois professores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) publicaram um estudo intitulado “É possível viver de day trading?”.

Não sei você, mas eu não tolero meias verdades ou coisas tendenciosas. Faz 18 anos que atuo no mercado financeiro e posso dizer que já vi muita gente sendo enganada. Mas, o fato de 90% de qualquer coisa ser um lixo, não significa que os 10% são inalcançáveis.

Depois de ter feito mais de quinhentos programas ao vivo, sempre de segunda a sexta-feira, nos últimos 22 meses, ter ajudado centenas de milhares de pessoas a operar neste mercado e treinado mais de 8 mil alunos, estou confortável em afirmar que sim, é possível viver de trade. Mas não é fácil. Você precisa de um método que realmente funcione e precisa segui-lo com disciplina e dedicação.

O estudo em questão traz como base o banco de dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e, segundo um dos autores, “há fortes evidências de que não faz sentido, ao menos econômico, tentar viver de day-trading”.

O texto repercutiu nas redes sociais e lá estava uma entrevista minha que, segundo o estudo e quem a divulgou, dá a conotação de que “day traders melhoram com a experiência e que, portanto, os profissionais deveriam persistir”.

Ainda dentro destas análises, os dois professores apresentam os seguintes dados: “Dos 19.696 traders que começaram a fazer day-trade em mini índice entre 2013 e 2015; 18.138 (92,1%) desistiram, uns mais cedo, outros mais tarde; das 1.558 pessoas que persistiram por mais de 300 pregões, tentando de fato viver de day-trading, 91% tiveram prejuízo e apenas 13 pessoas obtiveram lucro médio diário acima de R$ 300,00”.

Resumindo, menos de 1% das pessoas que iniciam no Day Trade realmente conseguem um lucro médio diário acima de R$300,00. É aqui que as coisas começam a ficar interessantes. Explico a seguir.

1. Sobre o artigo citado no estudo

Eles copiaram dois trechos do final do meu artigo: Afinal, é possível viver de trade? De junho de 2017 e colaram em sua “Análise empírica da performance dos novos day-traders”. O que eles não inseriram no estudo foi a primeira parte deste mesmo material em que eu explico, entre outras coisas, que o mercado não é fácil e todos que optam em se dedicar a este segmento, devem saber antecipadamente que precisam estar entre os 5% que irão sobreviver.

Um amigo disse que queria deixar seu trabalho de engenheiro para viver full-time de trade. Minha resposta foi taxativa: “eu não faria isso, a menos que seja um sonho que você esteja disposto a levar até às últimas consequências”.

Quem tem vivência real com traders, e não apenas analisa números, sabe que o controle emocional é indispensável para o sucesso. É a falta dessa habilidade que faz com que o trader assuma, cada vez mais, riscos maiores, e acaba indo para o tudo ou nada no fim do processo ao perceber que sua conta está diminuindo. Isso já foi explicado por Daniel Kahneman e Amos Tversky na Prospect Theory (Teoria do Prospecto).

Na segunda parte do artigo eu digo: “Para mim, o ganho não tem ligação com o risco nesse ponto, mas sim com a relação entre dois fatores: seu conhecimento, controle emocional e seu dinheiro em conta”.

É por isso que em todos os meus treinamentos eu não começo pela técnica, mas pela mudança de mindset. Os resultados deles falam por si mesmos. Resumindo, em junho de 2017 eu já afirmava que este não é um mercado fácil e que para ter sucesso, é preciso se preparar muito bem para isso.

2. Sobre contratos mini índice e mini dólar

O estudo só contempla as operações de Mini Índice e Mini Dólar e de traders entre 2013 e 2015, quando a economia brasileira começou a declinar. Assim, ficaram de fora os traders mais experientes, que em geral migram para os contratos cheios, e os operadores de outros ativos, como DI, ações, opções e commodities.

Então, ao menos para mim, parece um estudo com uma amostra incompleta para poder fazer uma afirmação tão contundente como “Apresentamos fortes evidências de que não faz sentido, ao menos econômico, tentar viver de day-trading”.

3. Quem estabeleceu o critério de R$ 300,00/dia como o valor ideal?

O estudo afirma que da amostra apresentada, apenas 13 pessoas (menos de 1%) obtiveram um lucro médio diário acima de R$300,00. Quem definiu este critério? E quem faz R$50,00, R$100 ou R$250 por dia? Não pode afirmar para si mesmo que dá para viver de day trade?

Alguém que ganhe em média R$ 250 por dia (R$5000 por mês considerando 20 pregões) está entre os 7% mais rico do Brasil, segundo levantamento do Spotniks.

4. Sobre o “…com alguma liberdade de interpretação…”

Note esta frase em meio ao texto dos autores:

“Um total de 19.696 pessoas começaram a fazer day-trade em mini índice em 2013, 2014 e 2015. Dessas, 1558 fizeram day-trades em mais de 300 pregões. Com alguma liberdade de interpretação, definimos essas pessoas como as que levaram a sério o conselho de passar pelo suposto período de aprendizado e continuaram na atividade. Para alguém que esteja interessado em viver de day-trading é fundamental conhecer a performance desses citados”.

Eu interpreto que em nenhum momento do estudo, essas 1558 pessoas acima afirmaram que começaram a operar no Day Trade com o objetivo de Viver de Trade, portanto, o objeto do estudo não me parece fazer sentido.

Muitos buscam no day trade apenas uma renda extra. Curiosamente, a maioria dos traders que fizeram parte do estudo são de profissões liberais, que possibilitam mais flexibilidade de horário.

Convenhamos, R$2000 reais de renda extra não é nada mal em um país em que mais de 52 milhões de pessoas sobrevivem com apenas R$387 por mês.

5. Sobre a amostra de dados

O banco de dados entregue para análise – segundo os autores – contém a atividade de trading completa de todos os indivíduos, nesses dois ativos, em todos os dias de 2012 a 2017.

Porém, quando eles detalham os dados sobre pessoas operando em mini índice e minicontrato de dólar, eles citam apenas os períodos de 2013 a 2015. O estudo não ficaria mais completo se contemplasse 2016 e 2017 e incluísse os contratos cheios?

Para se ter uma ideia, o volume dos cinco maiores participantes (bancos, corretoras, etc) do mini índice era de 15.617.789 contratos em agosto de 2015. Esse número saltou para 101.288.933 no mesmo período em 2018, um crescimento de 673% em apenas três anos.

Outra coisa que mudou significativamente foi a participação de pessoas físicas no mercado. Em fevereiro de 2016, essa fatia representava 32% das operações, sendo que apenas três anos depois, já batiam na casa dos 47% de todo o volume negociado no ativo.

6. Por que a maioria não consegue fazer algo, não significa que aquilo não presta ou não é um bom negócio

Segundo o Sebrae, 60% das empresas fecham as portas até o segundo ano. Nem por isso as pessoas vão deixar de empreender. Apenas 18.5% passam, logo na primeira tentativa, no exame da OAB. E nem por isso as pessoas desistem de estudar advocacia.

E 49% dos alunos matriculados no ensino superior não concluem os estudos, quatro em cada cinco jogadores de futebol – no país do futebol – ganham menos que outras profissões mais humildes como servente de obras e catadores de lixo, e nem por isso algumas pessoas vão deixar de investir neste mercado.

7. O cenário mudou

Como disse antes, a participação de pessoas físicas na bolsa aumentou consideravelmente nos últimos anos. Não tenho dúvidas que entre os principais fatores está a quantidade disponível. Em 2013 não havia salas abertas de trading como temos atualmente, as plataformas profissionais eram muito caras, não havia sequer cursos acessíveis. Além disso, há profissionais preparados e que fazem uso de ferramentas profissionais.

Theodore Sturgeon, autor de ficção científica, certa vez ele formulou a frase pela qual seria eternamente lembrado: “90% de qualquer coisa é um lixo”. A frase acabou virando a “Lei de Sturgeon”. E, ao menos para mim, parece fazer muito sentido até hoje. Veja se você concorda:

– 90% dos cursos online não ensinam de fato o que você quer aprender;
– 90% das publicações em mídias sociais não retratam a vida real das pessoas;
– 90% do conteúdo publicado na internet não passa de uma cópia malfeita de algum outro site;
– 90% das pessoas acham que entendem sobre um assunto porque leram livros;
– 90% das pessoas leem apenas a manchete de uma matéria e já têm uma opinião formada sobre o assunto;
E o pior de todos:
– 90% dos profissionais não se importam de fazer parte dos grupos acima dos 90%.

Se você não quer fazer parte dos 90%, seja bem-vindo. Em breve, teremos grandes novidades que vão te ajudar nessa jornada até se tornar um trader consistente, porque quando você realmente quer, não tem estatística que te impeça.

por Rodrigo Cohen, trader desde 2013, após ter o seu certificado de analista técnico de investimentos. Manteve um escritório de assessoria da XP, foi sócio do Portal do Trader e já foi analista na Rico Investimentos onde apresentava o programa “Ponto a Ponto”.